Wednesday, March 09, 2005

draft 2...

Uma hora e quarenta e sete minutos. Dezassete capítulos. Duas personagens principais, uma feminina. Uma masculina. Um cão. Um polícia. Um detective privado. Uma Senhora pública. Uma mãe drogada. Um bando de putos mal-educados. Um assassino. Um assassinado. Um assassinato. Beijos. Tiros. Sexo. Romance. Mentiras. Promessas. E um final que não sei se seria o melhor.

O telefone, do outro lado do sofá, esperava anciosamente um motivo para tocar. Afinal era essa a sua função. Por mil vezes olhei para ele. Por cinco vezes confirmei que tinha bateria, rede, som. E ainda assim desconfiei que estivesse amuado por não o ter carregado durante a noite. Mas não tardei a ter a confirmação que tal não se confirmava. Tocou a meio da primeira noite de sexo dos protagonistas!

- Estou... - Disse. Sem sequer olhar para o número que aparecia no visor, e faltando-me a voz de tanto tempo calado. - Ouves-me? - Não eras tu! Era um amigo de longa data, perdido na noite a convidar-me para uma Cerveja. - Não dá, tenho de me levantar cedo amanhã... Não me posso arriscar a uma das nossas antológicas noites de alcoól. - Mentia. Esperando que ele estivesse de tal modo consumido pelo brilho da bebida que nem se lembrasse que o 'amanhã' era Domingo. - Depois ligo para combinarmos outro dia. Olha, fica para a semana que vem. Prometo. E desliguei antes que ele despertasse para a má mentira em que me metera.

Dois documentários. Um do realizador. O outro do policia, que pelos vistos já tinha feito mais filmes, dos bons, o que não era o caso. Uma featurette, que deve ser uma coisa francesa, sobre o que motivou o cão a fazer o filme e a desempenhar tão bem o seu papel. Um teledisco com imagens de amor e morte, não fosse a canção uma balada digna do top de vendas americano. E um texto de quinhentas páginas que me pareceu ser o scrip, e que não acredito que ninguém leia mais do que uma. Excusei-me a rever o filme comentado pelo director de fotografia, e pelo tipo que escrevera o livro. Escusado será dizer que o telefone continuava imóvel e inanimado. Ferramenta de tortura acinzentada. Com uma lâmpada verde irritante que não parava de piscar, piscar, picar, piscar.

Saltei para a borda do sofá. Que estúpido sou... a luz verde é sinal de mensagem escrita. Nem devo ter percebido o toque rápido e envergonhado, o que escolhera para me avisar nas reúniões sem risco de ser despedido. Rapidamente tentei perceber se era o teu número. Era. E desenharam-se na minha mente livros, páginas de texto, compêndios e opúsculos sobre o que seria possível escrever numa mensagem escrita. E tanto tempo que a mensagem levava a aparecer no visor... Fiz uma nota mental para o deitar fora na primeira oportunidade, e o filme também!

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