Tuesday, March 08, 2005

draft...

Se pudesse diria que era só um avião a partir! Mas sabendo que ias lá dentro a constatação teria de ser outra. E o meu coração ficava cada vez mais pequeno e cada vez menos brilhante. Do tamanho e do brilho da aeronave que estava a ver fugir no ar. Cada vez mais longe. Cada vez menos um avião.

E quando já era só um ponto no espaço tive a certeza de estar só, ali, na gare... e cheguei a este ponto, de me perguntar que mais levavas tu que a mala no porão e a bagagem de mão? - Levavas algo muito meu! E só me apercebi disso quando já nem no horizonte estavas.

Que mais havia a fazer? Nada. Nada que já não tivesse sido feito em tempos. Algo que há data tinha tanta força que seria capaz de parar um avião no ar, faze-lo dar meia volta e aterrar. Hoje, ali, a ouvir apenas o corre-corre de quem chega e quem parte, senti pela segunda vez o vazio de outrora. O sentido dos não sentidos. O olhar vago para o horizonte. E só havia uma coisa a fazer.

Meti as mãos nos bolsos. O vôo durava pouco mais de duas horas, já contando com o desembarque, o check-out, e a recta-da-meta chamada Táxi (ou Cab neste caso), dava tempo para abotoar o casaco e fazer-me ao frio de Lisboa. Arranjar lugar para o carro à frente de uma tasca na baixa. Meter-me numa livraria e quem sabe comprar um livro. Voltar para casa e preparar-me para o tempo que ainda era teu: a espera de um telefonema rápido. A certeza que aquele vôo era uma vírgula e não um ponto final. Por enquanto eram dois pontos. O principio de algo mais.

Troquei a tasca por um hamburguer. O livro por um filme. Voltei para casa. Desabotoei o casaco e tirei o cachecol. Atirei-me violentamente para a parte mais funda do sofá, procurando naquele habitat de espuma pelo elo perdido da nova civilização, o telecomando da televisão. Olhei ao redor à procura do telefone. E ali estava, à minha frente. Ainda silêncioso.

Esperei...

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