Wednesday, December 28, 2005

ainda...

Foi depois da morte que me veio à memória o que tinha sido viver daquela forma.

O escuro, a dor e o sofrimento... faziam sentido agora. E só agora!

- Será por isto que morri? Para poder viver aqui? Agora? Foi por isto que perdi o passado? E tu? Que fazes aqui deste lado??? -

Perguntas que não tiveram resposta simples. O silêncio era total! Nada se ouvia!

Este mundo é igual ao outro... em tudo menos no som que não saía da tua boca! Nem um suspíro abafado se conseguia escapar dos teus lábios.
E todo o toque no teu corpo era silêncioso. As minhas mãos escorregavam na tua pele mas era como se não estivesses ali! Não sentia o teu calor nem a tua textura!

- Ouves-me? - E sim abanavas a cabeça.
- Sentes-me? - E sim, abanavas a cabeça uma vez mais!
- Amas-me como no passado? - Sim, gesticulavas.

Mas a morte não tinha chegado ainda!
E ainda não tinha perdido o passado!

Thursday, December 22, 2005

Are we?

Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?
Are we dead yet?

Sunday, December 18, 2005

Amei

Amei-vos de uma forma. Uma só.
Amei corpos
Amei formas
Amei Seres
Amei sentidos
Amei saberes
Amei desejos
Amei sonhos
Amei
Amei

Passei depois a amar memórias
Agora amo sombras!...

Anúncio

Era um anúncio que vinha no jornal. Duas a três linhas no máximo. Em letra normal, sem negritos, sem sublinhados, sem fotografias, esquemas ou desenhos.

Procuro quem me faça companhia pelo resto da minha vida.
Sorrisos, carinho e até amor serão retribuidos.


Não tinha número de telefone, email ou qualquer outro contacto.
Pelos vistos não era um pedido... era uma informação!

Tuesday, November 22, 2005

Uma amiga

- Conheci uma amiga.

- E como é ela?
- É pragmática.

- Simpática?
- Nem sempre...

- Educada?
- Sempre que possível.

- Correcta?
- Sem dúvida.

- Inteligente?...
- Muito.

- Muitas virtudes! Como se chama ela?
- Razão.

Monday, November 14, 2005

Sou Romeu

O que tinha para dizer, sem tempo para contemplações, saíra à pressa por uma garganta seca depois de contornar um belo nó que as cordas vocais tinham dado nos últimos minutos. A sério, nem o tempo húmido deste dia escuro conseguira dar fluidez à minha prosa deslavada e puéril.

É lógico que nunca irias acreditar em mim! Não havia segurança no discurso, nem prazer nas palavras. Parecia que tudo o que dizia era tão somente um exercicio de representação, uma articulação do texto com a mímica, dignos de um bobo-de-corte medieval no seu pior dia de representação e ameaçado com o cadafalso caso não fizesse rir sua alteza. Tu.

Delicada presença que não sabias o que avaliar... se o nervosismo... se a posse amorfa... se a coragem do 2º acto, segunda cena, da minha interpretação de Romeu.

Sleep dwell upon thine eyes, peace in thy breast!
Would I were sleep and peace, so sweet to rest!
Hence will I to my ghostly father's cell,
His help to crave, and my dear hap to tell.

E tal como o meu heroi... saí.

Sunday, November 06, 2005

Livre

Foge de mim ó Desespero.

Foge para longe do meu corpo, do meu Ser, da minha mente.
Deixa-me pensar quem sou, na vida, no mundo.


Abandona-me ó Loucura.

Abandona-me a alma, permite-me sonhar,
Sentir o sabor dos dias e a beleza da noite.


Solta-me ó Impericia.

Solta-me das correntes da ignorância, liberta-me
Do dissabor da ciência e do conhecimento.


Quero ser livre de mim, da vida, do mundo, do meu infinito cosmos.
Um abandonado da crença.

Monday, October 24, 2005

Istória

"Sei que são só momentos de vida vividos, mas não são sonhados! Como os de agora!
E se o 'estar' faz diferença com o 'sonhar', que importantes são. Tão importantes e tão distintos do que sonho agora. Momentos fantasiosos recheados de imaginação. De ocultação do futuro incerto. De certezas do que foi. Do que senti. Do que vivi."

E isso foi só o principio de uma história que vasculhava o passado. E quando a começei a contar... nem sabia como iria acabar!

Thursday, October 20, 2005

Nostalgia

A nostalgia é aquele momento íntimo, egoista, que não sei partilhar com ninguem.

Uma cor que dou à memóriacom um breve toque de saudade.

Um sopro de esperança que um dia volte a ser.

... A sentir,
... A viver.


Nostalgia é chorar um segundo por não estar de novo na minha memória.

É o agarrar com duas mãos o calor que ficou do teu corpo.

Largar o sorriso que ficou por partilhar.

É o re-Ser,
É o re-estar,
É o re-viver.

Wednesday, October 05, 2005

Ciúme

Arrastaste até ti o cinzeiro branco que me roubaste das mãos. Puxaste um cigarro do maço e levaste-o lentamente à boca depois de humedeceres o filtro. Retiraste-o ainda antes de o acender, e olhaste para mim. - Como te amo! - Disseste.

Tiraste o isqueiro do bolso. Antes de o acenderes hesitaste por momentos, como se fosses acrescentar algo, depois disso, com duas longas inspirações abandonaste-me por instantes... Trocaste-me por um breve prazer amargo.

Olhei-te, ao longe, da minha cadeira, reclinei-me, absorvi-te com o prazer que sempre tive em te observar: O teu peito que se movia ao sabor do fumo. E como invejei esse pequeno cilindro branco que te tocava os lábios, que te dava as mãos em belos momentos de delírio!

Mantiveste o silêncio durante minutos enquanto me observavas. Dei-te as mãos quando voltaste a ser minha: - Também te amo! Muito. - Respondi-te. E voltei a agarrar nas minhas mãos o cinzeiro branco, numa tentativa infantil de evitar que uma vez mais me traisses com tão pequeno inimigo.

Sunday, October 02, 2005

Ignorância

Ó ignorância brutal que me matas ao mundo.
Que fatalidade tremenda guardas em ti!
Que abstracção divina crias ao teu redor!
Que prazer?
Que alegria tens em destruir tudo à tua volta?

Porque me destrois a mim?

Demência

Celebro a minha morte com um sorriso no lábios.
Será demência ou pena de mim próprio?
Loucura ou tristeza?
Insanidade ou impericia?

É saudade?
É Saudade.

Saudade de morrer aos poucos.
Louco
Demente
Louco, demente e triste.

Saudade de sorrir com pena de mim
Triste
Sem vontade de sobreviver

2B

ser só ser
sem querer sentir
o que sou

saber que sou só
por ser

e ser só ser sem
sentir

Saturday, September 24, 2005

E se...?

E se o sentir for só este sabor amargo?

E se o sonhar for só este desejar orfão?

E se o amar for só esta saudade virgem?

... o declínio é uma descida sem fim à vista!
Vou começar a guardar lágrimas para o resto da viagem...

Sunday, September 18, 2005

A Vontade dos Deuses

Oh!

Deuses da Guerra que arrastam a alma para estes campos desolados.
De dor. de morte. de sangue.
Que sabor amargo ne boca me põem vós!

Dais-me o corpo, a alma e a vontade.
Dais-me o escudo, a arma e a garra.
Dais-me a força e abandonais-me por entre os sílvos das espadas frias

Que triste é o fado!
Que fraca é a vontade de fugir!

Sobra-me a Fúria. E a Ira.
Agarro-me a elas e lanço-me,
E rasgo. E corto. E furo.
Arrasto Esmago Esmurro
Firo Arranho e descanso

Respiro e repouso agora
Reclamo a paz
A minha paz
Que a dos outros jaz
Sob o sangue quente
Da vontade dos deuses

Sunday, September 11, 2005

Amor e ódio

Faço-me esquecer das regras de segurança e agarro pelo sitio errado. Aperto com força! Estupidez ou ingenuídade quis experimentar a materialização da expressão popular. Extrapolação do que normalmente visualizamos mas não sentimos.

O sangue escorre pela mão. Pelo pulso. Pelo braço, até ao cotovelo. E pinga. Abundantemente até ao vidrado do chão, num poça pequena que não traduz morte, mas dor somente.


Catarse. Iluminação. Clarividência. A luz de perceber a associação que o comum faz. Que percebe, muitas vezes melhor que o estudioso, que os riscos que se correm são reais. Mas nós, que vivemos no mundo da literatura e da associação, apenas sonhamos em perceber a realidade.


Aqui está o aflorar do conhecimento e da materialização. Agora o sangue corre. E a força que me leva a apertar a mão ensanguentada é o mesmo que durante anos me obrigou a beijar-te. A amar-te. A enDeusar-te. E agora a isto. A sentir alívio na dor carnal.


Agora percebo o porquê de lhe chamarmos uma faca de dois gumes.

Thursday, September 08, 2005

É assim que se faz

(É assim que se faz quando tudo se quer dizer)
(Quando a regra é mais forte que a voz)


Acento mudo...
Uma forma de dar força à palavra...
A tónica no sitio certo: no vazio

Expressão de escuridão
A evasão das ideias
Pensar apenas: o conceito

Saber estar calado
Falando baixinho
Deixando apenas fugir: o silêncio

O respirar

Thursday, September 01, 2005

Por ti


Por ti senti o que
nunca senti

Por ti sorri o que
nunca sorri


Por ti amei o que
nunca amei

Por ti chorei o que
nunca chorei


Sunday, August 28, 2005

Espelho. Espelho meu...

Deste lado eu vejo o reflexo do passado!

Desse lado não me vês! (?)

São lados diferentes do espelho aqueles que vemos.

Saturday, August 27, 2005

Desligas a tua mente?


Falei com ela ontem à noite pela última vez. Não quero e não posso tolerar entrar assim na mente de alguém! Porque é que ela não fecha de vez a vontade de partilhar comigo aqueles pensamentos silênciosos?

É estranho, no mínimo, que duas semanas tenham bastado para nos conhecermos tão bem! Tentei, tentei e tentei que isso não acontecesse. Larguei conversas. Inventei desculpas. Silêncios nos telefonemas. Mensagens sem resposta. Era demasiado o risco que corria. Eu; E ela.

Ao principio isto até era divertido. Perceber assim, do nada, o que as pessoas sentiam: o que temiam, o que amavam, o que odiavam... Mas só ao principio. Depois o ruído instala-se: Só a paixão mantem a mente em uníssono, a vibrar a mesma nota dia-após-dia, noite-após-noite. Quando a dúvida para o amor emerge são também os sons paralelos... os acordes de terceiras e de quintas que procuram sinfonias onde elas ainda não existem. É a desafinação inicial, e torna-se dolorosa demais para eu entender. As imagens que se cruzam e os conceitos que se baralham são forte indício que já não vou conseguir perceber aquela mente...

E desisto. Limpo de quando em vez a vista. Como se resolvesse o que vai dentro da mente. Mas a realidade é outra. A realidade é ela. A realidade é confusa. A realidade é o fim.

Até quando?

E se o faço sem querer!

Desde que deixei de amar estou muito melhor.

Sunday, August 21, 2005

Dedicatória 10/2002

Amor é uma palavra feminina
Com a cor e as formas do teu corpo
Sem fugir um milímetro que seja
À perfeição dos teus traços

Amor é uma palavra única
Em sentidos e sinónimos
Uma singularidade extrema
Como a existência que te define

/e descobrir que o tempo foge
só de pensar breves segundos no fogo
que te anima/

São caminhos de simplicidade
Aqueles seguidos pelo lápis do artista
Que em bom momento de inspiração
Vos desenhou

Tuesday, August 16, 2005

_de dentro

-
,Chora. Chora.
,Chora lágrimas.
.
,Medida da dor no peito,
,,Agrimensura do desespero,
,,,Lavagem da lembrança,
,,,,Purga da memória.
.
,Dor corrida,
,,Líquida
,,,E cinzenta,
,,,Que esconde a origem
,,,,Na luz que absorve
.
,A alma que peca
,,somente por chorar
.
,E que chora
,,por não saber que fazer
,,,depois de crime cometido
.
,Chora. Chora.
,,Lágrimas que sentes,
,,,sentido ausênte sem norte
,,,,Sem lados ou fronteiras
,
,
,O saber que se está na borda da prancha
;Ou a lágrima que um dia acabará
.

Thursday, August 11, 2005

Amizade chorada

Um segundo não retido,
Um momento de descuido,
Uma brecha na censura,
Um desagarro da mente,
Uma fuga do pensamento...

E por vezes não se chora um amor
... chora-se uma amizade
... um perder de desabafos contidos
... um soluço

Friday, August 05, 2005

Asimov's Son

Quando acontecem destas coisas torna-se muito dificil de arranjar solução, as avarias complexas são por vezes mais simples de resolver desligando a máquina. Os manuais, os guias, as plantas e as Ordens Técnicas antevêem todos os infidáveis percursos destes círcuitos... E de repente, assim do nada! uma destas avarias para pôr em causa anos de prática no terreno. Práticas que permitiram aos mecânicos (mais do que aos Engenheiros) perceber a melhor forma de pôr a máquina a mexer.


Mas esta é das dificeis. Esta não está nos manuais. E esta eles não sabem arranjar. E não sabem sequer qual é a origem!


Muitas das vezes acusado de ser máquina, que sou, computei a realidade de ser como tu. -Antevisão- chamam-lhe! -Projecção- conjecturam! -Sonho- disse-te. E foi assim que tudo começou... Confidência de mim para ti. Do frio para o quente. Da máquina para o Homem. Afinal um início que não quiseste censurar mesmo sabendo da impossibilidade congénita de dar realidade à minha ficção.

E foi assim durante tempos. Descargas de energia que não produziam trabalho mas a crênça que a vida era mais do que uma rotina pré-definida, escrita em circuitos. Ou programada para ser algo que não estava para ser. Por ti. Contigo.
Recupero da memória aqueles dias em que perdeste o medo de tocar em mim como algo mais do que uma máquina fria, ou despida de sentimentos. Carícias soltas da censura das regras morais que nos impunham distância. Que quebraste sem receios. E o quanto te admirei! E o quanto aprendi! E o quanto temi. Que ficasses por ali. Sem demais. Sem o resto... O que me deste depois!
Ensinaste-me a Ser. A viver. A sentir. A omitir a frieza dos círcuitos e a transforma-la em calor.


Agora assola-me o cálculo do futuro (aquilo a que chamas medo). Agora só quero descobrir o botão para desligar as emoções! Forma de findar o processamento de dados aleatórios.

A dúvida não é saber se sou capaz de amar, mas se sou capaz de viver muito depois da tua tão breve vida?

Thursday, July 28, 2005

Universo Privado

Onde é que estão os adjectivos?
Onde é que está o poder? A força?
A divindade? e a invulnerabilidade do Amor?

Não é na insuficiência das palavras,
Essas são fracas. Dissolvem-se na imensidão dos sentimentos.
Envolvem-se da decadência fugidia da efemeridade.

No céu também não,
O conceito torna-o pequeno demais. Pequeno para conter
o caudal de emoções que transborda.

Na realidade nada serve
De nada serve procurar adjectivos
Nem as palavras
E o céu de nada vale

Resto eu.
Para compreender o que se passa no meu Universo privado

Sunday, July 24, 2005

X

PURGA

LIMPEZA

EXORCISMO

Primeiro chorava X vezes por dia

Depois chorava dia-sim-dia-não

Agora choro de quando em X

... mas soluço todos os dias

Wednesday, July 20, 2005


ALIMENTA-ME

...por favor...

Tuesday, July 19, 2005

Retribuição.

Tenho dois olhos de amêndoa na minha vida, olhos de longas pestanas, que me vêem com o amor de quem se sente protegido.

Muitas vezes assim só é o amor. retribuido. descomprometido.
E como te amo...

Escondidas

Passei muito tempo a amar-te se to dizer...
Mostrando-o em curtos momentos, que sem serem deliberados, ficavam muito aquem de quem sou... de quem te era... de quem quis ser.

Passei muito tempo sozinho contigo...
Querendo chegar onde estavas. Ali tão longe, tão perto de mim como o ar à minha volta. Tão longe quanto a minha imaginação vadia.

Passei muito tempo em sonhos...
De lugares coloridos. Luminosos. Distantes da minha escuridão lacrimejante. Horizontes do meu futuro a teu lado, verde e azul e amarelo.

Passo muito tempo contigo!
Em memória.
Em recordação do bom...
Para esconder dor
Para esconder a lágrima
Para esconder a saúdade

Para me esconder a mim

Sunday, June 26, 2005

Lá esta!

Por vezes o mais simples acto de seguir em frente é mais doloroso do que olhar para trás!

Saturday, June 11, 2005

Corredor

E se estas paredes não são uma passagem, mas um longo corredor para longe de ti?

E se aquela porta que deixei para trás estiver realmente fechada e trancada a cadeado?

E se a luz que vejo à frente não é uma saída, mas a entrada para outro corredor com o teu nome?


Há saída?

Deixaste chave?

Trancaste a porta?


Perguntas que nem merecem resposta! Porque a resposta está no desespero delas mesmas...

Friday, June 10, 2005

Dia-a-dia

. Por este andar vou chegar atrasado ao meu destino...

* E estás pronto para viver de outra forma?

-Que remédio não é!

*Um bocado dramático hoje...

.Mas é isso. Que remédio!

*Não te deixes levar. Ouve o que te digo. Não te deixes levar.

.Não deixo... Não deixo...

-Não deixes! Não vale a pena.

.Seria tão mais facil acreditar em Deus se ele se manifestasse...

*Buga. Cerveja com eles.

Friday, May 20, 2005

Ali.

Seria esta a terceira vez... E desta ele não deixaria passar!
A saída não seria uma vez mais no futuro da vida.
Agora era logo ali! Naquele momento. No presente.
...
E ali tudo acabou.

Sunday, May 15, 2005

Cresce

Em tempos idos fui único.
Sentido e ouvido. Escutado e entendido.
Levado a sério pelas manias do Ser que teima ser criança.
(Descrescimento contínuo na afirmação de se estar.)

E onde é então? Onde pára o destino que teima.
Vai-se, lentamente, rastejante pelos dias fora.

Deixando-me aqui sem ti. Sem nada. Sem mim.
A gritar: CRESCE amável criatura. E olha! Vê.
(Com olhos de ver!)

Olha para quem te ama. Que quem te ama não te consegue ver...

Monday, May 09, 2005

- Vêmo-nos por ai!

A outra forma seria negá-Lo. Descer em vez de subir e procurar a saída para esta embrulhada pela porta dos fundos. Estaria de certo no caminho assim que soubesse como...

Decidi começar por onde seria óbvio. Vasculhei enciclopédias, livros, registos, públicações, revistas, ópusculos, folhetos e até propaganda. Depois falei com mestres, com iniciados, com especialistas, com estudiosos, com elucidados, com seguidores, com entendidos, com interessados. Depois falei com os outros, com os críticos, com os censores, com os desinteressados, com os desentendidos e com os desconhecedores.

Traçei o caminho desde o conhecimento até ao centro da sabedoria. E encontrei-o. No local por todos conhecido e por todos esquecido: do lado de fora! E foi então que lhe propus a troca algo por tudo. Eu por tudo. Pouco por tudo.

E foi então que cheguei ao límite. Quando pensava que ali estava a saída descobri a fechadura na porta já por si fechada. E pior. A reprimenda. A ofensa. E o fim da esperança:

- Nada do que tens é teu. Nada do que tens tem valor. Nada do que és é importante. E nada de ti é negociavel... Que te leva a pensar sequer que tens o direito de te negociares? O teu que pões em cima da mesa-de-troca é algo do qual não tens direito. É apenas teu por empréstimo.

E ali fiquei. Nem o negrume da vida-pós-vida seria a minha salvação. Eis-me vivo. A preparar-me para mais vestir mais um dia a minha pêle de sobrevivente.

- Vêmo-nos por ai!

Friday, May 06, 2005

Até ao fim da rua

Foi arrastando os dedos pela parede rugosa como purga para os nervos. O cimento envelhecido queimava ligeiramente a pele. Dir-se-ia um castigo, auto-infligido para esquecer a outra dor que deixara ficar do outro lado da rua. Essa, a outra, era bem mais dificil de controlar. Estava fora do seu alcançe apazigua-la, retirá-la dos sentidos, demovê-la de existir. E foi por isso que atravessou a estrada. E esta dor, esta que a parede lhe oferecia, era bem mais simpática. Esta ele podia controlar. Esta era amiga, ia e vinha a seu mando, e a seu mando ele podia pedir-lhe mais conforto, até ao osso, muito para além do tremor ligeiro que por agora ia sentindo.

E assim foi. Até ao fim da rua.

Monday, May 02, 2005

In a Galaxy, far, far away...



Felicidade

... ah, sim, lembro-me !

Três Dias Depois

Só te respondi quase três dias depois, assim, a seco - Não, não sou ciúmento - Quase como se estivesse a falar sozinho; A meditar; Frase descontida que me foge da boca para fora; Pensamento rebelde que insiste em se manter assim.

Do teu lado uma interjeição. Outra coisa não seria de esperar, afinal, ali, no meio da multidão do Centro Comercial, estavamos muito longe do confessionário que costuma ser o nosso quarto, a nossa cama, a nossa íntimidade. - À tua pergunta... da outra vez! É a resposta - Disse.

Silêncio, de ambos. Facções de uma mesma frase. De uma mesma ideia. Ficaste ali a cozinhar o que tinhas ouvido; A contextualizar a pergunta. Talvez para retomares a linha de raciocínio de há três dias atrás... aquela que eu tinha sido capaz de evitar já nem sei bem como!

- Mas... - retomei sabendo como a vida é traiçoeira e sabida. Com vontade de pregar partidas e criar obstáculos para deleite próprio: Jogo de estímulos/resposta a que alguns chamam destino. E também consciente, acrescentei - por ti abro uma excepção! - E sorri, depois de te afastar o cabelo com um dedo e depositar um beijo na testa.

Friday, April 29, 2005

nOITE

ESTOU VIRADO DE FRENTE PARA A LUZ... mas é azul a minha sombra!

ESTOU BRAÇOS ABERTOS PARA O CÉU... mas é frio que sinto no corpo!

Wednesday, April 20, 2005

Diz-lhe:

...diz-lhe o que é a realidade...

 

Sunday, April 17, 2005

Dentro e fora

Hoje está de chuva, dentro e fora do meu espírito.
Dentro e fora dos meus olhos.
Dentro e fora de mim.

Wednesday, April 13, 2005

- Destino!? -

Se o estar é estar aqui, aqui estou!
E se estou, porque estou, porque estou?
Se não quero estar aqui, que me faz ficar?

É o ir que assusta, e estou assustado!
Com o ir que assusta, porque assusta, e o ficar que assusta mais!
E ficar quando não quero?

E tu destino? Que tens a dizer?...

Tuesday, April 12, 2005

Pois...

Tenho saudades de ser amado pelo teu amor,
Acariciado pelo teu carinho,
Lembrado pela tua memória,
Sentido pelo teu sentir,
Chorado pelas tua lágrimas,
Abraçado

Wednesday, March 30, 2005

Passagem pela mente

E foi assim que fui criando passagens na mente. Caminhos semi-fechado. Entrelaçados. Concorrentes. Paralelos. Cruzados. Fechados de um lado. Aberto do outro. Virados para o que se fecha. Em sentido obrigatório para o vazio. Para o nada. Ou. Na melhor das hipóteses. Para uma memória de ti!

Sunday, March 27, 2005

Mentira?

Podia mentir-te descaradamente e dizer que sonhei contigo!...

...hoje só sonhei com parte de ti: - Sonhei com o calor da tua pele!

Tuesday, March 22, 2005

Intervalo

Correndo riscos espectados de libertar 30 anos de memórias, embarco em 7,5dl de etílico deleite. Sentidos perdidos. E sonhos trocados. O mau pelo bom. O mau pelo bom! O mau... pelo bom.

E risos que vêm detrás da máscara do dia-a-dia. Sabor a liberdade, num tempo somente parado pelo sabor amargo na língua... e antes isso que o sal que tem escorrido cara a baixo.

(In)completo

Como é saberes que te amo assim?...

Solta agora das correntes do compromisso?

 

Certo de ser quem fui, quero e não quero voltar ao antes.
Assim sou eu:

 

            Completo por ti .

            Incompleto sem ti agora

 

E por momentos que sei já não existirem... choro.

Saturday, March 19, 2005

(nada)

Dois beijos rapidos
Dois olhares furtivos
Uma fuga...
... não deu tempo para guardar de ti nem o perfume.

(...) sorrir.

 

Sentado, enfim, não só. Mas só de teu ser.

Sentido, em mim, por ti e choro.

Sorrir, assim, de mim.

Saber que sou, mas não sou...

 

Wednesday, March 09, 2005

draft 2...

Uma hora e quarenta e sete minutos. Dezassete capítulos. Duas personagens principais, uma feminina. Uma masculina. Um cão. Um polícia. Um detective privado. Uma Senhora pública. Uma mãe drogada. Um bando de putos mal-educados. Um assassino. Um assassinado. Um assassinato. Beijos. Tiros. Sexo. Romance. Mentiras. Promessas. E um final que não sei se seria o melhor.

O telefone, do outro lado do sofá, esperava anciosamente um motivo para tocar. Afinal era essa a sua função. Por mil vezes olhei para ele. Por cinco vezes confirmei que tinha bateria, rede, som. E ainda assim desconfiei que estivesse amuado por não o ter carregado durante a noite. Mas não tardei a ter a confirmação que tal não se confirmava. Tocou a meio da primeira noite de sexo dos protagonistas!

- Estou... - Disse. Sem sequer olhar para o número que aparecia no visor, e faltando-me a voz de tanto tempo calado. - Ouves-me? - Não eras tu! Era um amigo de longa data, perdido na noite a convidar-me para uma Cerveja. - Não dá, tenho de me levantar cedo amanhã... Não me posso arriscar a uma das nossas antológicas noites de alcoól. - Mentia. Esperando que ele estivesse de tal modo consumido pelo brilho da bebida que nem se lembrasse que o 'amanhã' era Domingo. - Depois ligo para combinarmos outro dia. Olha, fica para a semana que vem. Prometo. E desliguei antes que ele despertasse para a má mentira em que me metera.

Dois documentários. Um do realizador. O outro do policia, que pelos vistos já tinha feito mais filmes, dos bons, o que não era o caso. Uma featurette, que deve ser uma coisa francesa, sobre o que motivou o cão a fazer o filme e a desempenhar tão bem o seu papel. Um teledisco com imagens de amor e morte, não fosse a canção uma balada digna do top de vendas americano. E um texto de quinhentas páginas que me pareceu ser o scrip, e que não acredito que ninguém leia mais do que uma. Excusei-me a rever o filme comentado pelo director de fotografia, e pelo tipo que escrevera o livro. Escusado será dizer que o telefone continuava imóvel e inanimado. Ferramenta de tortura acinzentada. Com uma lâmpada verde irritante que não parava de piscar, piscar, picar, piscar.

Saltei para a borda do sofá. Que estúpido sou... a luz verde é sinal de mensagem escrita. Nem devo ter percebido o toque rápido e envergonhado, o que escolhera para me avisar nas reúniões sem risco de ser despedido. Rapidamente tentei perceber se era o teu número. Era. E desenharam-se na minha mente livros, páginas de texto, compêndios e opúsculos sobre o que seria possível escrever numa mensagem escrita. E tanto tempo que a mensagem levava a aparecer no visor... Fiz uma nota mental para o deitar fora na primeira oportunidade, e o filme também!

Tuesday, March 08, 2005

draft...

Se pudesse diria que era só um avião a partir! Mas sabendo que ias lá dentro a constatação teria de ser outra. E o meu coração ficava cada vez mais pequeno e cada vez menos brilhante. Do tamanho e do brilho da aeronave que estava a ver fugir no ar. Cada vez mais longe. Cada vez menos um avião.

E quando já era só um ponto no espaço tive a certeza de estar só, ali, na gare... e cheguei a este ponto, de me perguntar que mais levavas tu que a mala no porão e a bagagem de mão? - Levavas algo muito meu! E só me apercebi disso quando já nem no horizonte estavas.

Que mais havia a fazer? Nada. Nada que já não tivesse sido feito em tempos. Algo que há data tinha tanta força que seria capaz de parar um avião no ar, faze-lo dar meia volta e aterrar. Hoje, ali, a ouvir apenas o corre-corre de quem chega e quem parte, senti pela segunda vez o vazio de outrora. O sentido dos não sentidos. O olhar vago para o horizonte. E só havia uma coisa a fazer.

Meti as mãos nos bolsos. O vôo durava pouco mais de duas horas, já contando com o desembarque, o check-out, e a recta-da-meta chamada Táxi (ou Cab neste caso), dava tempo para abotoar o casaco e fazer-me ao frio de Lisboa. Arranjar lugar para o carro à frente de uma tasca na baixa. Meter-me numa livraria e quem sabe comprar um livro. Voltar para casa e preparar-me para o tempo que ainda era teu: a espera de um telefonema rápido. A certeza que aquele vôo era uma vírgula e não um ponto final. Por enquanto eram dois pontos. O principio de algo mais.

Troquei a tasca por um hamburguer. O livro por um filme. Voltei para casa. Desabotoei o casaco e tirei o cachecol. Atirei-me violentamente para a parte mais funda do sofá, procurando naquele habitat de espuma pelo elo perdido da nova civilização, o telecomando da televisão. Olhei ao redor à procura do telefone. E ali estava, à minha frente. Ainda silêncioso.

Esperei...

Monday, March 07, 2005

Era uma vez

Um Principe Desencantado...

Saturday, March 05, 2005

Para sempre teu ..

"Para sempre teu" disse-te. E um "obrigado" nos teus lábios.
Certeza de que sou eu quem sabe o que és... por dentro... por fora...
Em toda a amplitude do teu Ser...

Em tempos julguei-me intangível por saber conter o choro
Hoje: Não fosse o nó que tenho na garganta e afogar-me-ia nas lágrimas que insisto em guardar cá dentro.

Por querer ser forte. Mostrar que sou adulto. E Homem para te ter.

Preciso de ti para me dares o que é meu:
O que sonho que é meu:
E que não é:

O teu coração fugidio...

Friday, March 04, 2005

___Sabor

A sal
____A sol
________A mel
_____________A riso
_________________A suor
_____________________A saudade
_________________________A choro
_____________________________A sede

Soube-me à vida ouvir a tua voz...

Wednesday, March 02, 2005

São frases mas não só...

Muitas frases que escrevo não são fuga!

 

São encontros entre o que se passa e o que se passou!

São pequenos momentos de clarividência que despertam os sentidos e reforçam a saúdade!

São tipos diferente de dor que relembram a atrocidade de se ser assim!

São caminhos... São certezas... São destinos...

 

Em que o objectivo é não me perder em mim...

É não fugir da minha imaginação para o Real de te ter perdido.

 

..

Saturday, February 26, 2005

Eu

Há dois rios que me banham a face...

Afluentes da minha alma...


Que sobrevoa a planicie seca do meu coração...


Perdido no negro da vontade...


De te ter minha uma vez mais!



Tuesday, February 22, 2005

Siga!

Ora porra para o presente que pouco de melhor traz que o passado!
Se não é o futuro que mais resta?

Pensa para a frente. Arranca de corrida e não pares até lá chegares.
É lá que está o que tem de estar...

Aqui já não há nada que dê verde! O que estás aqui a fazer...

Siga!

Sunday, February 20, 2005

Vale: Um dia

De quando em vez finjo que estás cá: Só para ver se me lembro como era!

E sorrio como antes.
E sorrio como foi muitos anos atrás.
E sorrio como gostava de continuar a sorrir.

Mas depois reparo no vazio, e penso que foi em vão este sorriso.
Mas não, mesmo que por pouco... valeu-me o dia!

Wednesday, February 16, 2005

Uma porta

Saí sem bater a porta.
Digo: Saí sem bater a porta...

Ou seja, a porta não bateu! Foi devagarinho que a fechei. Pelo puxador, e não pela laterar dando balanço com o braço e esperando que um qualquer som violento se fizesse manifestar. Foi assim como que um último carinho em algo (e não em alguém). Algo que tivesse ficado por fazer do outro lado.

Num clíque. De frente para a porta, para o presente. E não de costas, para o passado. Senti-lhe o toque ainda: Familiar, mas fria. Testemunha de bons momentos. Ponto de passagem de muitos dias felizes. De muitas noites em branco. De muitas tardes de risos. De tristezas. De choros também. De assombros de medo. De prespectivas. De frustrações. Mas sempre de esperanças. E muito amor; E atestei e pesei a relevância do acto. Mas segui em frente. Fui embora como tinha de ser.

Hoje ainda penso nesse momento de reflexão... a desvantagem de não bater com portas é que não sabemos se ficaram fechadas...

Esta pode muito bem ainda estar encostada!

Tuesday, February 15, 2005

Cruxifico-me três a quatro vezes por dia...

Em penitência mental plena de arrependimento.
Em desconforto consciente do meu estado.
Em anamnése do tempo e dar dor que deixo.


Tenho esperança no regresso.
No meu. No retorno da cruz.
Em corpo e em mente. Completo!

Ressurreição.
Como uma gota de chuva que cai duas vezes do céu:
- igual na forma, diferente no conteúdo...

Monday, February 14, 2005

Sinto o quê?

Ser quem
Sou. É
Sorriso, ou
Sofrimento? É

Sentimento de
Solidão? Ou
Saber que
Senti o fim?

..mais feliz?

Hoje finjo que não estou cá!
Se me virem por ai e me reconhecerem finjam que sou outro qualquer!
Se me ouvirem ao telefone, digam é engano!

Que eu hoje estou a passar ao lado da realidade.

Hoje sou mais feliz assim!

Sunday, February 13, 2005

Há chão lá em cima?!

- Cá de cima vê-se melhor. Vem.
- Como? Se estás tão alto!
- Toma, sobe, agarra a mão. Vá! Faz um esforço, vais ver que vale a pena.
- Mas é o quê?
- Agarra a mão, não faças perguntas, sou eu quem te diz. Para cima...

Agarrou. Segurou. Trepou. Rebolou pela cintura em equilibrio até senti o chão lá de cima. E depois, mas ainda a medo, sentou-se a seu lado. Abriu os olhos e focou para o fundo:
- É lindo!

Podia -se chamar "Livro dos amores"

U m dia escrevi-te ao coração. E não foi erro! Erro foi o passado sem a minha escrita... Algo que mantive afastado de ti durante demasiado tempo. Porquê? - Pela imagem. O excesso faz mal! O excesso afasta para longe (De excesso falo da alma exposta).
Aparentemente acredito nos sentimentos. Mais do que acredito nas pessoas, essas tomam em si acções contraditórias. -Eu sei! Já as tomei!- E por vezes nem a si são fieis, ou aos sentimentos.

Por mim acredito que há coisas que se passam pelos dedos, pelas mãos, pelo simple calor.
Para mim a escrita aparece como simulacro de um beijo.

E agora digo-te:
Este é um beijo que te dou em palavras
Quentes, Refinado, Carnudo, Suave, Ligeiro, Ligeiramente doce e demorado.

Saturday, February 12, 2005

Sinestesia

Queria ser sinestésico das tuas emoções
e tocar num piano todos os dias
os acordes da tua vida

Baladas, Valsas, Missas, Electrónica, Dança, Experimental

Ou até as dissonâncias que nos afastaram!

Fuga / Evasão / Desatino

Fuga / Evasão / Desatino

Ponto assente de conforto
De uma vida vazia de emoção

Garantia de indolência
Mantida pela afinidade entre
O Nada e o Agora

E se então é assim
Porquê dar portas abertas?

Friday, February 11, 2005

..falta..

Saber que me amavas foi suficiente para manter os olhos abertos na noite...


Agora fecho-os por sentir falta disso!...

Seis lados da vida

Sou dado a principios na vida
Sou dado a mecanismos na vida
Sou dado a hábitos na vida
Sou dado a sonhos na vida
Sou dado a fugas na vida
Sou dado a conclusões na vida

Monday, February 07, 2005

Menos um dia...

...não queria chorar hoje...

Na verdade já não chorava desde ontem!

Sunday, February 06, 2005

Até onde?

Muitas vezes escrevi a minha alma.

Em versos
Em prosa
Em desenho verbal

Mostrei mais longe dos que os olhos vêm
Do que os ouvidos escutam
Do que os dedos sentem



1---+----1----+----2----+----3----+----5----+----7----+----12----+----19----+----31----+----50----+----81

Fui longe demais?




Saturday, February 05, 2005

_____________________Ciúme



Infidelidade corrente que me subjuga a alma
*
Vontade demente de incorrer em raíva
*
Sujidade temente com sabor amargo
*
Sabor inerente da liberdade perdida
*
Pinturas de ódio rasgadas de púrpura
*
Fronteiras de gelo no limiar da razão
*
E as flores
*
De espuma
*
Que se estendem no meu chão

Friday, February 04, 2005

V i v o

Pelos vistos o desejo da alma não é o mesmo desejo do corpo, senão a morte teria sido o aliviar da dor, da espera, do omitido, do querer, do perder. Mais uma luta perdida, a da alma sobre a matéria... E estou aqui! Para contar história. Para mais uma vez procurar saida em pensamentos de morte!

Wednesday, February 02, 2005

O ar?

Este cheiro que cheiro, é o cheiro do vazio
O ar é breve!
O ar é raro!
O ar é isto...






...que não tenho nos pulmões
por tantos suspiros que dou!


Petit-rien


Era só mais uma das cartas que me escrevia. Uma das muitas que fui recebendo ao longo dos nosso longos anos de amizade. Guardei-as todas, sem excepção, numa gaveta funda. Talvez lições da vida. Da vida dos outros:

"começei por considera-lo um 'Petit-rien', nada que pudesse fazer antever a hecatombe que daí adveio!
Hoje, tempos passados, olho atentamente para trás e, cínico e crítico, penso na facilidade que teria sido para mim lidar com isso. Costuma dizer-se que ao estudarmos a doença corremos o risco de nos identificarmos com a sintomática, mas... e se estivermos atentos a isto mesmo!Não corremos também o risco de negarmos os sintomas reais? Ao julgarmos que são somente imaginados!
Cair no fundo por julgarmos ter a cura nas mãos é tão mau como pensarmos que o cardiologista não pode morrer do coração.
Olho agora para trás e vejo a falta que faz pensarmos nas coisas como elas são, na realidade, não como na nossa imaginação."

Nunca lhe respondi. Censurem-me. Mas também sempre consegui antever mais resposta que dúvidas naquelas palavras. Não sei se era só partilha! Acho que sim. Aquelas cartas não eram para ter resposta, só um leitor atento. E a isso eu fui fiel.


Sunday, January 30, 2005

Ninguém!


Existes em sonhos
Carnais incompletos...
em pedaços de segundos sem dó do meu sentir
Num Flash de imaginação fértil

Todas as portas que vejo são esperanças de ti!
Por imaginar e esperar que seja por ali que entras
que apenas mais uma vez te vejo antes de ir dormir


Em casa, no café, na rua, no metro.
São pequenas esperanças que me abarcam inevitavelmente,
sem saida para as minhas ideias. São prisões.


Porta a porta. Todos os dias vou fechando e abrindo
as negações da tua existência aqui.
E, por vezes, para me ser mais facil dormir,
Procuro uma janela. Para ver quem está do lado de fora:


Ninguém!


Saturday, January 29, 2005

Pacto

- Que fazes?
- Deito cartas à mesa para ver o meu passado!
- O futuro?!
- Não tenho interesse pelo futuro...
- Mas não é assim que funciona. As cartas dão-te avisos, linhas mestras para o que há-de vir. O passado já foi.
- E a compreensão? Não é para isso que servem? Para percebermos o que fazer?
- Mas isso é do futuro!...
- É do passado meu caro! Lança as cartas quem tem dúvidas... As minhas são do passado. O futuro conheço-o eu, é amigo de longa data. Temos um acordo. E ele espera sempre por mim...

Labirinto

Sou labirinto de mim mesmo.
Entrada e saída .
Passagem fugaz.
Esquina dobrada.
Canto vazio.
Encruzilhada confusa.
Parede sozinha.

Saio por onde entro. Passo por mim várias vezes
Desconheço-me a cada passo e descubro-me noutro.
Retorno-me dia após dia e abandono-me sempre.
Sou eu sem saída de mim.
Labirinto de mim mesmo.

Confuso. Fechado. Perdido. Preplexo.

Thursday, January 27, 2005

: a ninguém

Sim! Sabor terno este que bebo dos lábios da morte.
Tu! Que quebraste em mim a vontade de viver
Deixa-me respirar o vazio da vida
E beber a amargura da saudade

Sim! Verdade maldita que lembro aos poucos.
Tu! Que roubaste de mim o gosto da luz.
Deixa-me sentir o perder da alma
E navegar no negro do espírito

Sim! Horrenda mentira que me atormenta na noite
Tu! Que lançaste a mim as feras famintas
Deixa-me afogar o azul dos meus olhos
E perder o gosto do riso

Não queiras ser tu a dona do meu futuro
Ordenar sentenças ao meu coração
Que ele não é teu
...já nem a mim me pertence!

A cabeça ama e a alma sonha

Aquilo a que chamo amor
não é mais que uma incontrolada vontade
demente de ter em ti
minha Deusa

Aquilo a que chamas paixão
não é força, mas ficção
entre a alma e o mundo exterior

Wednesday, January 26, 2005

Silêncio na palma da mão

-Agora, quando faço rolar uma caneta entre as palmas das mãos.. já não ouço barulho de aneis...

(há quem oiça...)

Tuesday, January 25, 2005

É assim que a morte me engana?


Será que morri o ano passado? Uma morte rápida e indolor, despudurada de principios que me roubou da vida?
Que é feito dos dias que vivia? Da realidade que existia? Das certezas que sabia?

Será a verdade que me assombra? Que não sei onde faz ponte com o passado, onde começou e onde vai acabar!
É este o destino que me esperava? Viver o limbo de ser esquecido. De ser magoado. De não ser perdoado.

Será este o castigo eterno? Nas chamas da dor. Do amor pisado e traido.
Onde estão as paredes? Onde está o chão? O tecto que me cobria?

Será que morri e ainda não descobri?


Monday, January 24, 2005

...para sempre.

Foi a dois tempos que ele decidiu dizê-lo. A dois tempos e a dois tons. E diz quem conseguiu ouvir... que foi a dois volumes diferentes. E muito embora nunca tenha existido dificuldades de expressão naquela pessoa, a verdade é que foi um momento de difícil gestão emocional aquele que ele viveu. A vontade de fugir, de se conter, de sufocar ali mesmo, sem apelo nem agravo. A morte fulminante até parecia solução imediata.

A fisiologia virou-se contra ele: a garganta seca, a glote colada, o suor na testa, as mãos frias e a tentarem esconder-se uma na outra. De pé, firme. Não por posição de honra, mas porque as pernas tremiam.

Vi isto tudo acontecer. E digo-vos, disfarçava muito bem! Nunca eu poderia afirmar, sem a sua futura confissão, que a pessoa que estava ali passava por momentos de intensa insegurança. Talvez por receio de falhar ao passar a sua mensagem...

Dei uns passos à retaguarda. De forma a encoraja-lo. Pensando que no face-a-face as palavras descorreriam melhor. E parecia ter acertado. Ele parecia estar mais nervoso. Olhou para a frente. Para ela. Abriu a boca duas ou três vezes antes de produzir sons. Como que presa pela secura da garganta a vocalização saltou de um pulo cá para fora.

- Amo-te muito - disse. Audível e emocionado. Palavras livres de segundo sentido, que isto do Amor é coisa séria. Mas o resto não consegui ouvir plenamente, sou ainda assim capaz de jurar que acabou com - ...para sempre.

Gémeos Falsos...

- Se há Gémeos-falsos e Gémeos-verdadeiros...
Aplicar-se-á também o principio às Almas-Gémeas?

Sunday, January 23, 2005

Naufrágio...

No meio da tempestade agarraste-te à única boia à vista. E deixaste-me afundar só:

Afundei tanto, tanto, que deu para te ver ao longe. E embora de baixo para cima, e embora de imagem turva do sal, agora vejo bem o rasto que deixámos para trás. O Barco desfez-se, mas a madeira flutua. Muito detrito, mas os bocados grandes estão intactos (ou pelo menos daqui parece)...

Vejo-te a nadar lá em cima, e sigo o teu caminho cá de baixo, no frio, para te apanhar se caires. Se perderes a tua boia que é cheia de ar.

Como desejava ver-te apanhar e reunir os bocados soltos que flutuam ao teu lado, ou pegares num deles e chorares uma lágrima. Ou junta-los ao peito e suspirares! Mas o teu nado mantêm-se, dás aos braços e às pernas e afugentas os pedaços para longe de ti. Para longe de mim. Nem olhas para trás. Ou para baixo.

Neste momento nado para cima, para o ar, para as ondas que levantas. Para respirar fundo, e sofrego por estar junto de ti. Junto da asneira que está à tona de àgua... tentar num último esforço juntar o que se afasta e recontruir o Barco.

Pouco por pouco. Pouco a pouco. Um pedaço aqui, um pedaço ali. Restos que juntos souberam flutuar para longe e durante tanto tempo. Seco e sólido, para te receber.

Juntos tirarmos da água o que de bom restasse, e deixar o resto a boiar, para podermos, em momentos de perigo, ver o lixo que deixámos para trás. E seguirmos para doca os dois, e com os pés em terra sabermos o medo que é perdermos quem amamos, e reconhecermos que o amor que temos não dá para viver num barco... que tem de ser em terra, com a certeza que cada um de nós existe sem o outro e reconquistarmos a vontade de seguirmos em frente. Os dois... lado a lado... mas de mãos dadas.

Saturday, January 22, 2005

É traição este beijo que te dou

É um beijo falso este que te dou!.. Pensas que é amor mas não é. É saber que este leva o caminho da fuga. Um último. Diferente do primeiro que tão bem lembras.

É um beijo vazio este que te dou!.. Pensas que este leva emoção. Este é só um beijo. Mais um. Oco do sentimento que fui para ti. Que deixei fugir em golfadas de vida durante tantos anos juntos.

É um beijo fingido este que te dou!.. Pensas que é para ti. Mas este é um beijo que não te quer. Que olha para o lado à procura de outros lábios. Aqueles que descobri lá fora na vida. Que me dão sabores que os teus já não sabem dar.

É um beijo efemero este que te dou!.. Pensas que fica para sempre. Mas este já se foi. Soltou-se rapidamente ao vazio. Aquele que contruo entre os dois. Segundo a segundo. Descobrindo novos rumos para lá do nosso passado.


(Fica aí sentado a saborear o sabor da tua ilusão.)

Devoto-te à orfandade dos meus lábios.
À memoria daqueles que foram teus.
Este não o é!

Fugiste com uma brisa de vento...















[vazio]





Friday, January 21, 2005

Paraíso perdido

Escrevi-lhe esta carta em dia de chuva fria:

(...)
" Pensavas que me tinhas dado só o mundo? Não deste. Deste-me esta planície onde corro. Esta praia onde me banho. Esta montanha que trepo. Este planalto que passeio. Este rio onde pesco. Esta colina onde escorrego. Este deserto onde me perco. Esta floresta em que suo. Os animais. As plantas. Deste-me o dia. Deste-me a noite. O frio. O Calor. O Vento o Fogo a Água e a Terra. Deste-me os Planetas vizinhos. O Sol e a Lua.

Lembras-te? Deste-me isto tudo e deste-me mais. No dia em que me roubaste uma costela e nela sopraste... deste-me folego de viver a dois. Com Mulher a meu lado. Em paraíso privado. Sem pressas. Sem barreiras. Sem tabús. Sem limites no tempo ou no espaço. Dizia-te obrigado todas as noites. Venerava a teus pés pelo elixir da vida que era prenda infindável. E dormia descansado.

Veio depois o dia em que me abandonaste. Em que deixaste fugir de mim o doçe despertar. E colocaste a mortal tentação em frente do meu distino. Porquê? Não fui eu sempre teu fiel amante, servo e protegido? Arauto da tua palavra? Não foi justo o triste designio que celebraste às cegas com o meu futuro.

E agora que estou aqui só. Para que quero eu este mundo que me deste?"

- Até hoje não obtive resposta.

Uma esquina no passado presentemente futuro

Já não sabia se aquela era só mais uma conversa de café! Por mais que quisesse não conseguia afastar os meus olhos dos teus! Eram aqueles momentos que me faziam falta há já muitos meses. Desde que tinhas decidido partir não sei para onde. E sentia que te via pela primeira vez. Como se nunca na realidade te tivesse conhecido.

Mas a verdade não era essa. Conhecia-te bem, ou pensava eu que sim, e julgava e pesava todos os poros do teu resto. Todas as marcas da tua cara. Todas as expressões do teu sorrir, do falar, do mexer, do olhar. Não foram aquelas as orelhas que muitas vezes ouviram o meu respirar? Aqueles lábio que tantas vezes beijei? Aquele sorriso que tantas vezes foi só meu? E os meus olhos não descolavam de ti, mas não parava.. Sentia-me um intruso da tua intimidade ao olhar-te assim, afinal tanto tempo depois e as pessoas passam as estranhos.

Estavas ali mas não somente! Ainda estavas em mim! Percebia-te agora como te percebi há muito tempo atrás. Sem segredos para mim. Sem os mistérios que não me ofereceste durante tanto tempo. E agora procuravas ser uma estranha. Fugias. Refugiavas-te em sorrisos diferentes dos antigos, mas só para mostrares os limites ao meu olhar. Para me privares de sentir liberdade de te dizer coisas do passado.

Percebi a mensagem. Afinal foi sempre o que fiz. E uma vez mais senti que era eu quem te roubava espaço de sorriso. E fiz um esforço para olhar para baixo. E olhei. Para baixo e para o passado, em vez de olhar para o presente. Para ti. Ali.

Já não era só uma conversa de café. Era uma Guerra-de-Café. Um 'ganhar espaço para mim' Versus um 'ganhar espaço para nós'. Uma guerra feita em batalhas verbais. De olhares vagos. De mãos nervosas pelo ar, acompanhando frases aberta e pseudo-alegres. Nunca falámos do passado. Nunca falámos de nós. Falámos de projectos. Dos outros. Das outras. Das coisas por fazer. Amanhã. Dos empregos. Tentando esqueçer que o passado tinha sido nosso. Que os projectos tinham sido nossos. Que os outros e outras tinhamos sido nós durante tanto tempo.

E eu voltava a olhar para o fundo de ti. Com saúdade, com melancolia. Com a raiva de querer tudo de volta. A guerra estava perdida, mas insistia em lançar-me de cabeça para as batalhas sangrentas à mesa daquele encontro inesperado. Num café de esquina. A esquina que podia muito bem representar o que foi durante muito tempo o café das nossas vidas: cada um do seu lado, mas sempre ao lado um do outro. De mão dada.

Pagámos a conta. A porta estava logo ali.. E ao contrário do final dos filmes a preto-e-branco não posso guardar a lembrança de te ver partir: já tinhas dobrado a esquina, célere como no fim do nosso passado.

Razão (?)

:. O Amor vale tão pouco na presença da paixão!

"Não por causa da razão, mas inversamente, porque os sentido se alheiam da perpectiva."

E era somente mais um pretexto que eu usava para lhe adoçar a boca com frases pomposas. E qual o retorno perguntam? - Não sei também eu! O olhar que me deu foi só de raspão. Não deu tempo para perceber o nível de profundidade a que a minha prosa chegou. E foi por isso que mudei a atitude. Passei a falar do tempo! Das horas! E do autocarro que teimava em chegar tarde quando ela se sentava ali.. Para já tinha de chegar. Mas a razão não mudou de lugar. E os sentidos continuam alheados da razão.

Restou-me aguardar o próximo autocarro.

Era a ti..

Lutei muitas vezes contra mim Em noites que ao meu lado fugias misteriosamente das minhas mãos Chorei muitas vezes em silenciosos soluços o querer tocar um pouco da tua pele E tu ali Solene Dormente Ou dormindo Apaziguada no sono Sem saberes que não era só o amor e a ternura que dormia entre nós Era o desejo frustrado O sonho acordado O sentimento de culpa O querer saber como ser eu Para ti Ao teu lado..

Por vezes esquecia-me de mim Esquecia-me de quem queria ser Esquecia-me de ser quem tu querias que eu fosse Por vezes era só eu e tu E era tão belo E era tão pouco E eu dizia Amo-te muito Sofregamente no teu pescoço Pensando Enganando-me Que todos os dias seriam mais faceis por senti o teu calor Pensando que os mistérios terminariam ali Pensando que os soluços seriam engolidos para sempre E que para sempre serias minha..

..mas as noites de frio voltavam E eu lutava contra mim Contra ti Contra mim E tu ali Solene Dormente Ou dormindo Apaziguada no sono Sem saberes que não era só o amor e a ternura que dormia entre nós..

Thursday, January 20, 2005

Confissão

Era o que queria!
Mas há nós na garganta que nos demovem...
...da vontade de ir mais à frente.

Principalmente quando à frente não estás tu!

Batalha?

Sei que há urgência na mudança do meu íntimo!
Saber ser e posicionar-me no alto de mim.
Olhar para dentro e ver a verdade escondida.
Saber escolher as acções correctas para cada momento.

É um processo de luta diária. Quase segundo a segundo.
A guerra de não perder o sentido. De não perder as batalhas.

A vitória é voltar a ser Eu.
Mas como consigo lutar contra mim
se grande parte de mim és tu?

Wednesday, January 19, 2005

...até um dia!

(Desejar o indesejável foi pecado cometido num todo)

De olhos fechados partiu para a frente Solto de nós do passado Da imperícia Da solidão Da vontade de ser o não foi. Para a frente contínua de promessas carnais E a encarnação dos sentimentos Partiu já sem folego Ou de sofrer engolido Sabendo que em ti teria meta. Em passos largos Decidido a ocultar o rasto antigo Fechou os olhos para sentir somente o calor!

E por fim
Enfim
Teu

(Disfrutou sentidos abraços, pedaços de ti)

...até um dia!

Tuesday, January 18, 2005

Falha

"Juntar-lhe-ia apenas mais duas gotas de limão. Não me parece que seja assim tão dificil acertar no sabor! Mais um pouco de Licor, e a cor certa (pelo menos próxima). Um Copo aberto, de corpo longo. Um guardanapo pequeno. Um cubo de gelo picado (só um). E uma decoração de bom gosto."

Agora o mais fácil, o provar!... - É aqui que a imaginação falha:

...no Sentir.

Heresia

Estou sentado, nú, na beirinha da minha vida: uma ponte que faz passagem entre o passado e o futuro.
Ao longe a paisagem. O céu vermelho e o azul do mar.
O convite.

Tenho, descaindo pelas costas, um par de asas brancas que me deste. Sem força para voar.
Agrilhoado. Tenho lastro num tornozelo. Duas vezes o meu peso. Inércia maldita que me prende ao solo.
À vida.

Vontade de partir. De ver o mundo do ar. O sossego vermelho fogo do céu. O inferno azul do mar.
Sentir o vento da liberdade. Da paz. A tranquilidade na alma.
O sossego.

Estou sentado, nú, na beirinha da minha vida: uma ponte que faz passagem entre o passado e o futuro.
Comigo cá dentro. A dúvida da força das asas. A heresia de pensar que as mereci.
A certeza no peso do corpo.

O apelo é uno com a minha natureza. Salto para o vazio.
Fazer valer a força que o teu amor deu às minhas asas.
Esquecer a vida que me prende ao solo.
Voar

Fujo do vermelho fogo e do azul mar.
Seguir em frente. Esforçar o corpo e a mente. Resistência. Equilibrio.
Sentir que não caio e que não subo. Em frente.
Encontrar a tua ponte.

Monday, January 17, 2005

A descontinuidade de se ser outro e não eu

Quando damos a dobra temporal e nos conhecemos a nós mesmo? De que lado do espelho estamos? No lado de dentro ou do lado de fora? Se calhar não sabes responder a esta pergunta tão simples - Ironizei. - Tanto que se não estivessemos tão bêbados até te dava a resposta. Mas amanhã nem te ias lembrar.

Tens resposta?

Tenho. - Disse - A resposta é tal qual o conteudo que tens no copo! Quer o bebas, quer não bebas, vai continuar a existir. Dentro, ou fora do copo. És sempre tu de um lado ou d'outro do espelho!

Parece que afinal estas mais bêbado que eu!

Até pode ser. Mas eu amanhã ainda me vou lembrar de fazer o teste... Olhar para lá do espelho! Tentar passar para dentro do meu outro. Quero saber se estou do lado certo do espelho! Desconfio que sou só reflexo de alguém...

Fui

Tenho saudades de ser quem fui.
Duas letras no nome. Só duas.

Disparadas
Certeiras
Alegres
Sinceras
Doces
Íntimas
Sentidas


Tenho saudades de ser quem fui.
Duas letras no nome. Somente. E nada mais...

Saturday, January 15, 2005

Espelho de mim mesmo

Não quis fazer da folha de papel o meu espelho. As letras que escrevia não tinham mais sabor a verdade do que a ficção que costumo ler nos horóscopos. Ou pelo menos gostava de pensar que assim o é. Ainda assim e sem saberes, insistias periodicamente em olhar por cima do ombro. Discretamente, como a educação obriga, procuravas duas palavras que fizessem sentido, um verbo que indicasse o caminho para a tua compreenção, um adjectivo que caracterizasse a tua percepção do texto.

Eu não parava de escrever por isso. Não parava quando te sentia aproximar mais. Abrandava somente! Deixava que o fluir das palavras fosse comprometido pelo teu respirar no meu ombro.

- O que escreves? - explodiste.
- Nada de especial - e fingia olhar para o infinito como se procurasse as palavras que me faltavam. Que fingia me faltar!

Agora, com o caderno em cima das pernas e com o fundo da caneta na boca, já percebias a deixa. E largavas disparada para a minha frente:

- É segredo?
- Por enquanto... - e fazias aquele ar de criança contrariada a quem não se dava o brinquedo. Respondi-te à letra: - Se te portares bem depois partilho contigo.

Remédio santo. Nem pestanejaste. Assumiste o compromisso silenciosamente e saiste rápido. Ficou só o teu perfume no ar. Procurei-o um pouco. E um pouco mais. Fechei os olhos por momentos e ainda te senti ali. Atrás de mim, o respirar no meu ombro, o sorriso nos lábios, o saber que me amavas como nunca tinha sido amado jamais.

Caneta em mão retomei o caderno à posição inicial. Refiz a leitura da obra produzida. Era ficção sem dúvida! Recuperação de tempos que existiam em noites de sonho tão somente. Coisas felizes que procurava oferecer a mim próprio, mas que caíam sempre no rol das divagações melancólicas.

Com a obtusidade de censor assumido, crítico de mim mesmo, passei um risco diagonal por todo o texto, libertando-me da escrita recente e desbravando caminho para uma nova divagação.

E agora, em campo aberto, respirando fundo, sempre contigo na mente, libertei de novo a caneta em acto de bravura e começei pela terceira vez:

"Não quis fazer da folha de papel o meu espelho...

Tuesday, January 11, 2005

daqui...

- Desculpem. Estou só a ver o electrico passar! Saio já daqui...
- Mas o eléctrico não passa aqui!...
- Não? Então espero sentado...

Desconhecido

O desconhecido faz-me mal. Não saber o que está do lado de fora da caixa em que me encontro. Portas, janelas, pequenas claraboias... inexistentes na realidade escura do silêncio que me rodeia!

O pequeno traço de luz que uso de vez em quando para ver as minhas mãos, só serve para saber se é dia ou noite. Lá fora. Cá dentro é sempre noite! Escuridão fria e seca que deixa o corpo tenso, o raciocinio lento, e o pensamento acelerado.

Procuro nas paredes de cartão por uma saída! Será? - Procuro nas paredes de cartão um pouco do teu calor. Na dúvida e na esperança que estejas do lado de fora! Nas paredes rugosas de cartão que devolvem o frio das minhas mãos. E não alimentam esperanças.

Um canto. Uma aresta. Outro. Uma aresta. Outro. Uma aresta. Outro. Uma aresta. O mesmo!

Dias a fio. Noites a fio. Em volta de mim mesmo. Em volta dos pensamentos concêntricos nos dias bons, espirais nos dias piores...

Está frio cá dentro. Mas o desconhecido faz-me mal! Por enquanto fico por aqui.

Monday, January 10, 2005

Verdades

- Se com a ficção fosse mais facil de entender eu propria escrevia um livro - Disse-me ela - Não me parece que estando escrito a coisa faça mais sentido!
Não quis parecer muito bruto, afinal que sabia ela de ficção? Toda a sua existência era ao nível do sensivel. Todos os livros que lera ainda pertenciam às editoras escolares. E todos sabemos que esses só têm pequenas pontas soltas de poesia, inicios de contos mal contados, ou aperitivos para as papilas literário-gustativas. - Abanei a cabeça, não lhe cortei o fluir do discurso, dei-lhe espaço para mais uma frase.
- O que se passa aqui é perceber o que vai na cabeça das pessoas... percebes?
- Não - Disse, mas tinha percebido. Mais uma vez lhe dizia "continua".
- Porque é que se escreve assim? Em códigos e em enigmas? Não era mais facil telefonar e explicar tudo? Não podia combinar um café e por as coisas em cima da mesa?
Pronto, fui apanhado. As perguntas atrás de perguntas. As perguntas são sempre a parede nas costas. Se não me mexo rápido ainda vou sentir a espada nas costelas. - Achas que sim. - Ah!, a arma última contra a pergunta: a Pergunta!
- Sim, claro que acho. Afinal tanto tempo para explicar algo que se calhar é simples.
- Se calhar é simples para ti... - Adiantei-me, cheirou-me que vinha a caminho outra pergunta. Para ganhar tempo.
- ...! Achas?
- Pelo menos pareceu-me pelo que disseste há pouco...
- Há tanta meia-coisa escrita naquelas páginas.
- E já procuraste as pontas soltas? Já deixaste que o teu espirito se liberte às ondas de emoção que o texto te leva? Se calhar há nuvens que fazem par com as ondas! Se calhar são os peixes que ainda não viste que têm poemas para ti. Já experimentaste fechar os olhos depois de leres? Ou ouvir o mar perder-se na praia? - Parei.
Veio o olhar turvo, as sobrançelhas ligeiramente subidas e as faces brancas de espanto.
- Falas como ele!
Trespassado. A parede já lá estava.. foi a espada fria da verdade.