Wednesday, February 02, 2005

Petit-rien


Era só mais uma das cartas que me escrevia. Uma das muitas que fui recebendo ao longo dos nosso longos anos de amizade. Guardei-as todas, sem excepção, numa gaveta funda. Talvez lições da vida. Da vida dos outros:

"começei por considera-lo um 'Petit-rien', nada que pudesse fazer antever a hecatombe que daí adveio!
Hoje, tempos passados, olho atentamente para trás e, cínico e crítico, penso na facilidade que teria sido para mim lidar com isso. Costuma dizer-se que ao estudarmos a doença corremos o risco de nos identificarmos com a sintomática, mas... e se estivermos atentos a isto mesmo!Não corremos também o risco de negarmos os sintomas reais? Ao julgarmos que são somente imaginados!
Cair no fundo por julgarmos ter a cura nas mãos é tão mau como pensarmos que o cardiologista não pode morrer do coração.
Olho agora para trás e vejo a falta que faz pensarmos nas coisas como elas são, na realidade, não como na nossa imaginação."

Nunca lhe respondi. Censurem-me. Mas também sempre consegui antever mais resposta que dúvidas naquelas palavras. Não sei se era só partilha! Acho que sim. Aquelas cartas não eram para ter resposta, só um leitor atento. E a isso eu fui fiel.


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