Friday, May 06, 2005

Até ao fim da rua

Foi arrastando os dedos pela parede rugosa como purga para os nervos. O cimento envelhecido queimava ligeiramente a pele. Dir-se-ia um castigo, auto-infligido para esquecer a outra dor que deixara ficar do outro lado da rua. Essa, a outra, era bem mais dificil de controlar. Estava fora do seu alcançe apazigua-la, retirá-la dos sentidos, demovê-la de existir. E foi por isso que atravessou a estrada. E esta dor, esta que a parede lhe oferecia, era bem mais simpática. Esta ele podia controlar. Esta era amiga, ia e vinha a seu mando, e a seu mando ele podia pedir-lhe mais conforto, até ao osso, muito para além do tremor ligeiro que por agora ia sentindo.

E assim foi. Até ao fim da rua.

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