Monday, January 24, 2005

...para sempre.

Foi a dois tempos que ele decidiu dizê-lo. A dois tempos e a dois tons. E diz quem conseguiu ouvir... que foi a dois volumes diferentes. E muito embora nunca tenha existido dificuldades de expressão naquela pessoa, a verdade é que foi um momento de difícil gestão emocional aquele que ele viveu. A vontade de fugir, de se conter, de sufocar ali mesmo, sem apelo nem agravo. A morte fulminante até parecia solução imediata.

A fisiologia virou-se contra ele: a garganta seca, a glote colada, o suor na testa, as mãos frias e a tentarem esconder-se uma na outra. De pé, firme. Não por posição de honra, mas porque as pernas tremiam.

Vi isto tudo acontecer. E digo-vos, disfarçava muito bem! Nunca eu poderia afirmar, sem a sua futura confissão, que a pessoa que estava ali passava por momentos de intensa insegurança. Talvez por receio de falhar ao passar a sua mensagem...

Dei uns passos à retaguarda. De forma a encoraja-lo. Pensando que no face-a-face as palavras descorreriam melhor. E parecia ter acertado. Ele parecia estar mais nervoso. Olhou para a frente. Para ela. Abriu a boca duas ou três vezes antes de produzir sons. Como que presa pela secura da garganta a vocalização saltou de um pulo cá para fora.

- Amo-te muito - disse. Audível e emocionado. Palavras livres de segundo sentido, que isto do Amor é coisa séria. Mas o resto não consegui ouvir plenamente, sou ainda assim capaz de jurar que acabou com - ...para sempre.

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